Águas Paradas

25 de março de 2021

As águas de Veneza estão mais limpas do que nunca! Cristalinas como não se poderia jamais imaginar. Efeitos da quarentena.

Águas paradas podem ser um bem ou um mal. Os chineses têm um provérbio alertando que “água parada apodrece”. Daí, em tempos de lockdown, vale o cuidado de não se deixar estagnado. Faça alguma coisa! Arrume a casa, estude, leia, ajude alguém… mas não fique parado.

Há, contudo, uma outra concepção de “águas paradas”: aquilo que ocorre quando interrompemos a correria do cotidiano e temos um pouco de paz e serenidade, de quietude, permitindo que a poeira baixe, que o cérebro alcance ondas alfa, que as coisas fiquem mais silenciosas. O efeito disso pode ser a clareza, com tudo de bom e ruim que esse fenômeno traz: olhar a realidade de forma crua e objetiva. Eu desejo ao leitor que aproveite as “águas paradas”. Como não temos muito a opção, vamos aproveitar o momento para extrair dele alguma sabedoria.

As águas paradas podem trazer conclusões assustadoras: na China, explodiu o número de divórcios após o término do confinamento. Será que a convivência maior e os nervos à flor da pele foram mal administrados ou talvez apenas revelaram verdades que o gira-mundo impedia confrontar?

As águas paradas de nossa vida podem permitir uma avaliação geral que nos faça entender melhor aquilo que é relevante para nós. A forçada percepção de o quanto somos frágeis e vulneráveis como pessoas e espécie pode nos servir para reorganizar nossas prioridades. É nessa calmaria que podemos ver, na água clara, as joias que perdemos e estão no fundo à nossa espera. Então, aproveite as águas paradas, olhe o fundo do lago, do rio, do canal onde passa, determine aquilo que é realmente importante. Pegue o momento! E se prepare, pois cedo ou tarde vamos ter mais barcos rodando por Veneza.

Sim, uma hora o mundo tem que voltar a girar. Certamente o que virá será diferente, pois em grau maior ou menor os acontecimentos e a pandemia irão mudar nossa forma de interpretar a vida. E que ninguém ouse achar que a água parada deve ser eterna. Água parada pode ser ótimo, mas se durar demais apodrece.

Alguns elogiam a clareza da água e do ar em Veneza, achando que o mundo é melhor assim. Nesse passo, devemos fugir do sentimentalismo e das quimeras: Veneza existe para ter vida, e para ser visitada também! Podemos até reduzir o número de visitas, como se faz em Fernando de Noronha e no Arquipélago de Abrolhos, mas não podemos deixar a vida tão intocada que sua beleza não seja apreciada. Uma linda maçã deve ser saboreada, e não deixada ao relento. Maçã que não se come, se perde.

Você precisa de dias de calmaria, de água parada, para descansar, refletir, colher a criatividade e os hormônios do ócio e da leveza, sim. Mas também precisa mover as águas, pois “água parada não move o moinho”. Nessa linha, vale mencionar que a ideia de “mover as águas” está nos Evangelhos: de tempos em tempos um anjo agitava as águas do tanque de Betesda e isso produzia cura. Eis aí sabedoria: de tempos em tempos, águas paradas, e, de tempos em tempos, águas movidas. É no girar da água que se produz eletricidade. Águas calmas produzem bons filósofos, mas apenas as tormentosas, bons marinheiros. E não queira segurança demais, pois, já foi dito também: “Os navios ficam seguros nos portos, mas não é para isso que foram feitos os navios”.

E, se em algum momento você não souber o que fazer, ou precisar de paz extra, ou alguma cura, lembre-se que ainda há a Água da Vida, Jesus Cristo, água que quando se experimenta nunca mais se tem sede. Foi nele que encontrei paz, seja nas águas paradas, seja nas águas agitadas. E você? Onde busca paz? Aproveite as águas paradas para refletir sobre isso.

 

Terminando, citarei outro provérbio chinês: “Das nuvens mais negras cai a água mais límpida e fecunda”. Que estes tempos de tormenta que passamos produzam água boa. Só depende de você: aproveite o melhor da água que estiver parada, para buscar clareza e serenidade, e da água que gira, trazendo energia e eletricidade. Aprenda a transitar nesses mundos para ter paz e trabalho, pois precisamos de ambos para fazer a grande travessia do oceano dos dias.

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